Na década de 70, um médico americano, Dr. Atkins, lançou a idéia de uma dieta sem carboidratos, para fins de emagrecimento, porém com um consumo elevado de proteínas e gorduras.
Em primeiro lugar, esta “dieta” jamais poderá ser mantida por muito tempo, porque haverá um ímpeto compulsivo por carboidratos cedo ou tarde. Além disso, as conseqüências para a saúde como um todo serão extremamente indesejáveis e podem atrapalhar a vida das pessoas para sempre. É necessário fazer as pazes com os alimentos e saber lidar com eles da maneira correta, sem jamais sentir fome, seja qual for o objetivo. O fato de não se sentir fome com esta dieta é porque a digestão de proteínas e gorduras é demorada. Mas a fome do sangue e do sistema nervoso por glicose continua, e é ela mesma que vai levar o indivíduo a desistir. É o famoso efeito “ioiô”.
Ninguém mantém o peso estável através deste método, a não ser com conseqüências sérias para a saúde.
Para o organismo funcionar adequadamente o carboidrato deve cumprir com no mínimo 58% das calorias, pois há estoque deste nutriente como tal (glicogênio hepático e muscular). Somente o excesso viraria gordura. Já a gordura em excesso é que deve ser combatida.
A chamada “Dieta do Dr. Atkins” ou dieta das proteínas, criada nos EUA* pelo mesmo há mais de duas décadas consiste nos seguintes fundamentos bioquímicos: 
- Sem carboidratos o organismo utilizará maior quantidade de gorduras para produzir energia. A GLICOSE (carboidrato simples essencial para a sobrevivência das células, derivada dos amidos, sacarose e frutose) deverá ser produzida pelo fígado, pois as células nervosas NÃO SOBREVIVEM sem ela.
- Para sintetizar a glicose sem obter carboidratos na dieta, saem aminoácidos (componentes das proteínas) dos músculos, uma parte para serem oxidados in loco e a outra parte vai ao fígado originar glicose. O mesmo ocorre com a proteína que está sendo ingerida. Na alimentação balanceada (com 60% das calorias vindas dos carboidratos) as proteínas são direcionadas para a síntese de novas células.
- Cada molécula de carboidrato armazenada nos músculos (chamada Glicogênio Muscular – ESSENCIAL para evitar a fadiga física) guarda consigo 2,7 moléculas de água. Ora, sem repôr carboidratos, desidrata-se e perde-se peso também de água.
- ENTÃO: Esta dieta funciona para PERDA DE PESO, mas é às custas de perda de MASSA MAGRA, ou seja, músculo e água (flacidez e desidratação).

Compensaria diante da perda de gordura obtida? Não. Por quê?

1o) A massa muscular garante a Taxa de Metabolismo Basal (TMB), ou seja, o valor calórico mínimo necessário para manter a vida. Corresponde ao metabolismo do sono. Havendo perda de massa muscular, o organismo passa a necessitar de menos calorias para se manter, o que, numa “escorregadela” na dieta, desistência ou mesmo finalização, vai provocar um aumento de peso maior ao que se tinha antes. Isto se deve a:
1.a) Redução dos hormônios responsáveis por aumentar o metabolismo, pois agora têm menos células musculares para atuar;
1.b) Aumento da enzima glicogenosintase que fabrica o glicogênio muscular (reserva importantíssima de glicose que temos nos músculos para nos movimentarmos no dia-a-dia, e que deve ser reposta de quatro em quatro horas no máximo), desta forma guardando muito carboidrato junto com água (2,7 mol. de água por mol. de glicogênio). A pessoa se sente inchada pela hidratação repentina e já começa a recuperar o peso em água (nosso corpo deve ter 70% de água, menos que isso é desidratação)
1.c) Aumento da efetividade de receptores GT4 das células adiposas; receptores de gordura. Aliás esta recepção de gorduras pelas células adiposas já aumenta durante a dieta restrita em carboidratos, ou mesmo quando alguém demora mais de quatro horas para se alimentar. Há perda de gordura, mas há maior recepção também. Ao final, perde-se consideravelmente mais tecido magro que gordo.

2o)  CORAÇÃO E COLESTEROL: ao contrário do que foi dito, os estudos científicos com população que ingere dietas ricas em gorduras saturadas e pouco ou nenhum carboidrato mostram um aumento do LDL bem acima do limite estabelecido. A American Heart Association, com base em estudos científicos, recomenda que a gordura total da dieta não ultrapasse os 30% das calorias e que as gorduras de origem animal não ultrapassem 10 % das calorias. A ingestão de colesterol não deve ultrapassar a média de 300 mg/dia. Obs.: uma gema de ovo possui 275mg de colesterol, assim como 100 gramas de carne gorda.
Há casos relatados de infarto por realizarem esta dieta por muito tempo.

3o) RINS, ARTICULAÇÕES E ÁCIDO ÚRICO: a utilização de proteínas como fonte de energia leva à formação de ácido úrico e uréia em demasia, o que sobrecarrega os rins, podendo levar à formação de cálculos renais. Quando cristais de ácido úrico se acumulam nas “juntas”, surge a Gota.

4o) FÍGADO, GORDURAS E URÉIA: o fígado é o órgão destinado às transformações bioquímicas necessárias à vida e, quando está sobrecarregado, compromete todo o metabolismo. O acúmulo de gordura (esteatose hepática) e a excessiva metabolização de proteínas pode trazer disfunções graves e irreversíveis, como a cirrose hepática.

5o) CARBOIDRATOS E CÉREBRO: O sistema nervoso é o primeiro a ser afetado na ausência de carboidratos, o que leva à irritabilidade, insônia e falta de concentração. Na entrevista foi abordada a formação da serotonina pelo carboidrato como se fosse negativa. Ora, ela faz parte do metabolismo normal e uma pessoa com alimentação e hábitos de vida regrados regula também seu sono. A insônia sim é prejudicial.
Uma das funções dos carboidratos é economizar a proteína para que ela cumpra seu papel construtor e renovador das células. E uma das funções da proteína é fornecer aminoácidos para formar neurotransmissores (exemplo acima – serotonina, dentre vários outros). Esta dieta está relacionada com o surgimento de neuroses graves, segundo estudos.

6o) ATIVIDADE FÍSICA: A primeira causa da fadiga muscular e nervosa é a desidratação e a segunda é a depleção de Glicogênio Muscular (dado pelos carboidratos). Jamais se pode reduzir, quanto mais retirar o carboidrato de um atleta, pois ele precisa de seus músculos intactos. A adrenalina durante a atividade física supera a serotonina. O cansaço surge quando falta água e carboidratos.
Ainda, considerando-se que na atividade física há o objetivo de ganho de massa muscular, esta dieta provoca a sua perda, como já abordado.

7o) SISTEMA IMUNOLÓGICO: Os aminoácidos que compõem os músculos têm a importante função de produzir GLUTAMINA, um aminoácido que serve de energia para as células do sistema imunológico, sistema nervoso e enterócitos (células do intestino), então o organismo vai perdendo a sua resistência a infecções na falta de carboidratos, pois o músculo passa a fornecer aminoácidos para produção de energia e não de glutamina. 

NUTRIÇÃO É PREVENÇÃO e INANIÇÃO GERA COMPULSÃO.